A iniciativa gerou imenso desconforto entre as autoridades colombianas, sobretudo por estigmatizar um dos principais centros turísticos do país e patrimônio da humanidade. Porém, os argumentos utilizados pelos próprios colombianos contra a iniciativa são ingênuos e ufanistas, como pode-se ler no artigo publicado no jornal El Tiempo.
Lembro quando ainda trabalhava no Cinesul (há quase uma década!) e tivemos a exibição de um filme colombiano proibida pelo Consulado Geral da Colômbia no Rio por considerar que o filme "dañaba la imagen del país". Dez anos depois, pelo visto, o discurso continua o mesmo.
No entanto, nesse espaço de tempo houve uma forte e eficiente campanha para firmar a marca-país Colômbia com o slogan Colombia es pasión, numa tentativa
de desassociar a imagem do país da violência e do narcotráfico. A campanha custou 3 milhões de dólares sendo que 95% do investimento proveio da iniciativa privada. Através dos estádios de futebol e de astros como Juanes a marca foi amplamente difundida pela população. Em várias conversas com colombianos já me deparei com a declamação do slogan, revertido por um estranho orgulho pátrio. Durante a Bienal Iberoamericana de Design, que participei ano passado em Madrid, a mesa mais estranha foi justamente a da Colômbia: o representante desse país gastou mais da metade do tempo que dispunha lendo uma interminável lista de espécies da fauna colombiana, apenas para provar a sua diversidade e "pasión". Beirava o ridículo e virou motivo de chacota entre os demais participantes.
A impressão que eu tenho - tomara que eu esteja enganada - é que as "feridas de guerra" são tão profundas neste país que há uma necessidade premente de uma ação afirmativa, de um posicionamento na defensiva, de uma espécie de permanente auto-ajuda patriótica.
É uma pena pois soa falso. E a Colômbia não precisa disso. O desenvolvimento urbano e cultural da última década, aliado a um poderoso combate à violência nos principais centros urbanos já são motivo de sobra para se posicionar com orgulho no cenário internacional. Não precisa de listas de pássaros nem de boicote a filmes americanos. A imagem do país não vai mudar só com flores e café. Cabe aos próprios colombianos expurgarem essas questões, com senso de humor, um pouco de auto-crítica e menos didatismo. Quem sabe devorando essas produções maniqueistas norte-americanas e regurgitando-as sob outras formas, o país tenha mais jogo de cintura no cenário internacional. Viva a boa e velha antropofagia!