sábado, 23 de maio de 2009

Solo pasión?

Fiquei pensando no post que li outro dia no blog La Latina sobre o filme americano que será filmado em Cartagena, tendo Keanu Reeves no elenco. O filme se chamará Cartagena e o tema será - adivinhem? - o narcotráfico.

A iniciativa gerou imenso desconforto entre as autoridades colombianas, sobretudo por estigmatizar um dos principais centros turísticos do país e patrimônio da humanidade. Porém, os argumentos utilizados pelos próprios colombianos contra a iniciativa são ingênuos e ufanistas, como pode-se ler no artigo publicado no jornal El Tiempo

Lembro quando ainda trabalhava no Cinesul (há quase uma década!) e tivemos a exibição de um filme colombiano proibida pelo Consulado Geral da Colômbia no Rio por considerar que o filme "dañaba la imagen del país". Dez anos depois, pelo visto, o discurso continua o mesmo. 

No entanto,  nesse espaço de tempo houve uma forte e eficiente campanha para firmar a marca-país Colômbia com o slogan Colombia es pasión, numa tentativa 
de desassociar a imagem do país da violência e do  narcotráfico. A campanha custou 3 milhões de dólares sendo que 95% do investimento proveio da iniciativa privada. Através dos estádios de futebol e de astros como Juanes a marca foi amplamente difundida pela população. Em várias conversas com colombianos já me deparei com a declamação do slogan, revertido por um estranho orgulho pátrio. Durante a Bienal Iberoamericana de Design, que participei ano passado em Madrid, a mesa mais estranha foi justamente a da Colômbia: o representante desse país gastou mais da metade do tempo que dispunha lendo uma interminável lista de espécies da fauna colombiana, apenas para provar a sua diversidade e "pasión". Beirava o ridículo e virou motivo de chacota entre os demais participantes. 

A impressão que eu tenho - tomara que eu esteja enganada - é que as "feridas de guerra" são tão profundas neste país que há uma necessidade premente de uma ação afirmativa, de um posicionamento na defensiva, de uma espécie de permanente auto-ajuda patriótica.

É uma pena pois soa falso. E a Colômbia não precisa disso. O desenvolvimento urbano e cultural da última década, aliado a um poderoso combate à violência nos principais centros urbanos já são motivo de sobra para se posicionar com orgulho no cenário internacional. Não precisa de listas de pássaros nem de boicote a filmes americanos. A imagem do país não vai mudar só com flores e café. Cabe aos próprios colombianos expurgarem essas questões, com senso de humor, um pouco de auto-crítica e menos didatismo. Quem sabe devorando essas produções maniqueistas norte-americanas e regurgitando-as sob outras formas, o país tenha mais jogo de cintura no cenário internacional. Viva a boa e velha antropofagia!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

80 filmes

Depois de tanto tempo ausente, volto para postar um blogue paralelo que montei há pouco tempo, enquanto preparava uma palestra que dei sobre cinema latino para o pessoal da Casa Daros, no Rio, chamado América Latina através do cinema. O encontro foi ótimo e a ideia era dar um panorama geral do que se vem fazendo na seara do cinema latino.

Minha seleção de mais de 80 títulos, todos com links para trechos ou trailers no YouTube é variadíssima e reflete bem a diversidade desse cinema, provando o quão é difícil colocar qualquer tipo de rótulo.

O primeiro critério é que fossem filmes recentes - todos são de 2000 para cá, menos o último da lista, que foi onde tudo começou na minha vida e que por essa razão justificava sua presença: La Vida es Silbar, do meu pai cubano Fernando Pérez.  

Depois, dividi os filmes em alguns blocos temáticos, nada rígidos, mas que tentam direcionar algumas tendências desse novo cinema. As classificações foram bastante subjetivas, assim como a seleção, que na verdade é parte da minha memória afetiva de 7 anos selecionando filmes pro Festival do Rio.

Ali temos desde obras assumidamente comerciais, como Campanella e Iñarritu a filmes deliciosamente experimentais como La Antena, passando pelos trash-cult-movies chilenos do Nicolas Lopez, pelos melosos filmes chicanos, por comédias hilárias e por jovens diretores que não deixam nada a dever a ninguém, como a já citada Claudia Llosa, vencedora do Urso de Ouro, ou o chileno Matias Bize com seus simpáticos filmes sobre casais, ou ainda o boliviano de Cochabamba Martin Boulocq (aliás, sobre seu filme, Eugenio Figueroa, da Daros, fez um comentário interessante, de como a postura dos corpos do personagem deixa transparecer um certo estado de espírito do quase inexistente cinema boliviano).

A seleção também inclui a nata do atual cinema do continente (e aqui não me atrevo a classificar como "cinema latino-americano" pois são filmes que vão muito além desse rótulo), que na minha opinião é formada pelos grandes Carlos Reygadas, Pablo Trapero e Lucrecia Martel. Se Juan Pablo Rebella fosse vivo, estaria sem dúvida nessa lista.  Albertina Carri, depois do impactante La Rabia também é forte candidata. 

E tantos outros. Minha seleção não inclui apenas os filmes aclamados por público e crítica, nem somente os premiados em festivais. Nem inclui apenas os filmes que eu particularmente gosto. Não gosto de alguns, mas decidi inclui-los pois acredito que são filmes que de alguma forma apontam para um entendimento - e desfrute - do que poderia ser a América Latina. Alguns por endossá-la em seu discurso. Outros por negá-la. Uns por sofisticados, outros por toscos e mal-acabados. Uns porque nem pensam nisso! Outros que vivem disso. Uns por ousados. Outros por líricos. Há de tudo um pouco. Que disfruten!