Ainda bem que o velho mundo ficou no século passado… já estava cansado de viver num país que, ofegantemente, tentava chegar à Europa nadando e sem bússola. Agora, olho para os vizinhos de uma América Latina que não conheço. Uma América que, definitivamente, não é a dos generais e ditadores “cucarachas” perdidos no tempo. Que não é a do visto negado para os Estados Unidos, ou que paga caro a conta da corrupção.
É sem dúvida um convite para sacudir a poeira dando a volta por cima e renovarmos nossos olhares sobre os vizinhos, sem que isso tenha uma conotação ideológica. Chega daquela América embolorada e cheirando a mofo. Em pesquisa do Latinobarômetro, publicada hoje pela Folha, mostra que 73% dos latino-americano são favoráveis a uma integração econômica e apenas 60% apoia a integração política. Segundo a socióloga Marta Lagos, diretora do instituto, a razão principal seria a bipolarização do continente conduzida por Hugo Chávez, que acabou arranhando os esboços nessa direção (merci Chávez!).
Mesmo de forma não declarada e panfletária, a cultura serve a esse propósito. O desfile de Ronaldo Fraga, a abertura do restaurante La Mar em SP, o show da Bethânia com a Omara ano passado... tudo isso são laços de novo tipo que se estabelecem com esse vizinho "que mal cumprimentamos no encontro diário no elevador", no dizer do próprio Fraga. E conclui que a "troca de xícaras de açúcar" com esses vizinhos que não falam a mesma língua pode se dar sim pelo lado estético, gráfico, musical contemporâneo.
Como já tinha feito o fotógrafo argentino Marcos López em seu ótimo livro Pop Latino, Fraga mistura referências pop ao mundo das tradições. Afinal em terras como as nossas, filhas de processos de colonização, falar em cultura pura ou em tradição de raiz é quase risível. Somos por definição uma mistureba danada, que inclui sim os Estados Unidos. Chega de nos ver como água e azeite. Não somos nós contra eles. Nós estamos neles e eles estão em nós. E é o resultado disso que há de ser viável economicamente.