terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Começo de conversa

Aproveito o dia de hoje, com o pretexto do lançamento do meu livro América Aracnídea, para tomar essa iniciativa há tempos fomentada em minha cabeça: a criação de um espaço de reflexão sobre esse inusitado e desconhecido espaço geográfico chamado América - Pan, Latina, Ibero, todas elas. Depois de alguns anos circulando nesses terrenos culturais, já é tempo de sistematizar idéias, organizar informações, criar possibilidades para realizações de novos sonhos.

O livro América Aracnídea tem sua origem logo no segundo ano de faculdade, lá se vão dez anos. Cursava uma disciplina de história da América que era a coisa mais desinteressante do mundo. Aulas chatas, um amontoado de clichês, uns exercícios dos mais bobocas... o trabalho final era em grupo e resolvemos fazer sobre o Haiti, país até então bastante desconhecido por todos nós. Foi quando me dei conta do quanto era difícil obter informações sobre o Haiti nas bibliotecas do Rio. Por sorte do destino, a internet estava começando a se popularizar e tinha acabado de ser instalada no computador de casa. Foi quando um mundo fantástico de pinturas naïfs e poesias em créole se abriu para mim. Comecei a me corresponder com um galerista americano  especializado em pintores haitianos, a descobrir sobre o Vodu, sobre a relação deles com a terra, com o idioma, com as cores do Caribe, apesar de tanta miséria. 

A partir daí, resolvi que queria trabalhar com isso: desvendando facetas desconhecidas dessa terra tão próxima a nós, mas cercada por tantos estereótipos, tantos clichês e preconceitos. Ao mesmo tempo em que começava a trabalhar numa mostra de cinema latino-americano, descobria os originais de Pensamento da América, que anos mais tarde me valeria um diploma de historiadora e, hoje, se torna esse livro, editado pela Editora Civilização Brasileira. Entre o início da pesquisa e o presente passaram-se oito anos e continuo com a mesma obsessão em desvendar esse continente, que quanto mais eu conheço, mais me dou conta de como é desconhecido aqui no Brasil. 

Mas a intenção está longe de ser (mais) uma celebração ufanista da América Latina. Pelo contrário. O que gostaria de propor é pensar essas terras em outros termos, sem a (pesadíssima) carga ideológica incrustada nas últimas décadas, sem o olhar de piedade cristão, sem o pieguismo característico de tantas leituras sobre o tema. Acredito que haja uma América extremamente fértil e criativa, contemporânea e ousada. Não quero mais discutir a "identidade latino-americana", tema de tantos e tantos livros/artigos/eventos sobre o assunto. É melhor falarmos de alteridade, ou para ser mais atual, em diversidade. Mais do que buscar aquilo que temos em comum, gostaria de propor uma viagem por aquilo que nos surpreende, que "nem parece que é". Mas é. 

Espero que tenha disciplina para manter esse blogue atualizado, pois assuntos não faltam. Eu mesma farei uma versão em espanhol, por isso peço perdão de antemão caso não esteja castiço à altura. Voluntários para as versões em inglês, francês e catalão são bem vindos!


 

2 comentários:

  1. Que notícia boa este blogue, Ana. Acompanhei de perto a evolução do trabalho e fico feliz de encontrar aqui um espaço para que germinem as idéias que você semeou no livro - que está lindo! Bola pra frente!

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  2. Não poderia começar melhor o ano! Já comprei e iniciei a leitura do livro: trata-se de uma destas obras, que por sua originalidade, nos fazem pensar "pensamentos" que nem inaginavamos existir, mas que estavam lá, adormecidos sob o poder de empobrecedores clichês ideológicos. Parabéns e agradeço por esta oportunidade de conhecimento de episódios importantes de nossa história. recente. Estou iniciando a leitura, mas já gostei... e muito! Em outra oportunidade voltarei aos comentários sobre o livro, livro este que já reputo indispensável a todos interessados em nossa história como país e continente.
    Raquel

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