O portal Nós da Comunicação publicou hoje uma entrevista sobre o América Aracnídea.
É só clicar aqui!
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
La Teta Exultante!!!
Este carnaval terei uma razão a mais para comemorar: acabo de saber que o Urso de Ouro deste ano foi para o filme La Teta Asustada, do qual já havia falado aqui antes. Estou exultante de felicidade não apenas pelo fato da diretora Claudia Llosa ser uma amiga muito querida, com quem sinto uma conexão e sintonia de pensamento muito grande, mas sobretudo por atribuir a ela, como já foi dito aqui, um papel chave na atual cultura latino-americana. Seu jeito peculiar de contar histórias reinventa dramas e tradições, brilhos e saudades. É a nova américa se desenhando talvez sem se dar conta disso.
E por trás do talento de Claudia, deixo também meu reconhecimento ao produtor do filme, José María Morales, da Wanda Films. Morales se converteu nos últimos anos em uma espécie de midas do cinema latino, co-produzindo muitos dos grandes filmes das safras recentes, como o Abraço Partido, do argentino Daniel Burman, também premiado em Berlim.
Ao lado de Central do Brasil (Urso de Ouro em 1998) e de Tropa de Elite (Urso de Ouro em 2008), La Teta Asustada compõe a tríade de premiação para latino-americanos em toda a história da Berlinale.
Mas o mais emocionante de tudo foi ver a bela atriz Magaly Soler fazendo seu discurso de agradecimento em quéchua, em Berlim. É a própria personificação de tudo o que viemos discutindo aqui, a síntese do regional com o internacional, da tradição com a inovação. É sem dúvida um momento histórico de grande beleza e merecimento.
Razão de sobra para se comemorar em grande estilo!
Marcadores:
América Latina - cinema,
América Latina - conceito
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Ser ou não ser...
Nos últimos dias me deparei com duas declarações parecidas em contextos diversos que complementam algumas questões que venho levantando e gostaria de tratar aqui.
A primeira foi do autor Junot Díaz, dominicano-americano que ganhou o prêmio Pulitzer 2008 com o romance "A vida breve e bizarra de Oscar Wao" que a Editora Record lançará em breve. Em entrevista ao Estadão, Díaz levanta uma lebre cada vez mais recorrente nos tempos atuais que é a da condição do imigrante "latino", ou "hispano", a minoria mais numerosa nas terras do Tio Sam. Segundo ele, os brasileiros não se reconhecem nessa categoria e "fazem tudo para deixar claro que não são latinos", fato que não me espanta. O mais interessante da análise dele é que mostra como essa atitude acaba sendo prejudicial para a enorme massa de imigrantes brasileiros: "Num momento de vulnerabilidade como agora, quando a economia despencou, estão deportando brasileiros a rodo. Eles não construíram coalizões, estão isolados. Este solipsismo da natureza da identidade brasileira no contexto dos Estados Unidos, onde o que dá certo é construir redes, coletivos de grupos, voltou-se contra os brasileiros. Você vê isso em Massachusetts, a comunidade brasileira está sendo visada e não tem aliados."
É interessante o modo que ele coloca a questão das redes (teias) como elemento não só de sobrevivência como de pressão de uma comunidade imensa em meio a uma sociedade hostil. E é também interessante notar como o resto dos países "hispânicos" se confundem numa generalização absoluta, tornando-se todos iguais. Anos atrás, no ótimo filme "Un día sin mexicanos", de Sergio Arau, que simula um dia em que todos os latinos somem da Califórnia e o caos se instala, havia uma cena em que a empregada hondurenha é tratada como mexicana e o patrão, impaciente, afirma: "é tudo a mesma coisa". Sabemos que do lado de lá é mesmo. Há uma aparente união entre os "chicanos" que os tornam quase um objeto comum não-identificado. Daí os estereótipos e a pecha pejorativa da comunidade, que me leva à outra citação que li hoje do ator cubano-americano Andy García. Diz ele: "Todo el mundo sabe que amo mi cultura y siempre he dicho que soy cubano, pero yo no me considero un actor latino, ni quiero que me consideren ni me clasifiquen de esa manera. (...) A Dustin Hoffman no le dicen: es un gran actor judío americano. No creo que la herencia tenga nada que ver con la actuación, en realidad todos somos actores."
O grande desafio do nosso tempo é repensar essa imagem do latino, hispânico, chicano, cucaracha, sudaca, ou seja lá que nome for. Acredito no papel dos atores culturais como agentes transformadores, capazes de apresentar outros fios da teia. Afinal, muito dessa imagem é reafirmada por cada um de nós, às vezes até de maneira inconsciente. Mais uma vez é Díaz que entra com uma boa colocação: "seja o México ou Santo Domingo ou o Brasil, quase sempre exportamos expectativas pré-empacotadas, turísticas. Então a nossa 'intelligentsia', nossos artistas, nossos excêntricos, as pessoas que são cerebrais e interessantes não fazem parte do pacote exportado mas elas existem e são muitas."
Esperemos, pois o livro de Díaz por aqui para nos deparar com algo a mais dessa fértil e variada e desconhecida 'intelligentsia'.
Marcadores:
América Latina - conceito,
América Latina - Imagem,
Imigração
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Na Rádio
Amanhã às 10h darei uma entrevista para a Rádio Eldorado AM, de São Paulo (700Hz). Será no programa Panorama Eldorado, com a apresentadora Vanessa di Sevo. Para os cariocas, a rádio também pega via internet, neste site.
Marcadores:
América Aracnídea,
Imprensa
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Resenha 2
Esse sábado saiu na Ilustrada uma resenha do Oscar Pilagallo, que reproduzo a seguir:
Crítica/"América Aracnídea - Teias Culturais Interamericanas"
Análise valoriza obra sobre jornal que tentou unir Brasil e vizinhos
Historiadora aborda "Pensamento da América", publicado durante ditadura de Vargas
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A referência cultural da elite brasileira é oriunda da Europa, até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e, desde então, dos Estados Unidos. Os vizinhos latino-americanos sempre estiveram culturalmente distantes. Ou quase sempre. "América Aracnídea", da historiadora Ana Luiza Beraba, é sobre esse "quase". Durante sete anos, entre 1941 e 1948, o governo brasileiro investiu na aproximação não só com os latinos, mas com os americanos de um modo geral.
O principal instrumento dessa política foi o suplemento "Pensamento da América", publicado no jornal "A Manhã", órgão da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas. A metáfora da aracnídea remete às teias culturais entre os países do continente, que o jornal ajudou a tecer, valendo-se do trabalho de intelectuais modernistas ligados à diplomacia do governo Vargas. Para um projeto patrocinado pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), o suplemento até que era bem arejado. Um dos poetas mais traduzidos em suas páginas era o americano Walt Whitman, que no século 19 louvava a democracia dos Estados Unidos. Outro assíduo frequentador era o chileno Pablo Neruda, cujo comunismo também não agradava ao Estado Novo.
Para Ana Luiza Beraba, "o Brasil entrou no jogo do pan-americanismo não por pressão norte-americana, mas sim porque era a chance de se afirmar como potência no continente". Segundo ela, o Brasil conseguiu, com astúcia, inverter os interesses americanos em seu próprio favor. Não foi tarefa fácil. A iniciativa coincidiu com a americanização do Brasil, sobretudo a partir da adesão de Vargas aos Aliados, pondo fim às ambiguidades que por vezes o aproximavam do nazismo. Além disso, como nota a historiadora, dentro do próprio governo havia resistência entre os ideólogos mais nacionalistas.
O suplemento durou enquanto houve interesse político. Com a polarização ideológica entre capitalismo e comunismo a partir do final da década de 40, o pan-americanismo perdeu relevância. "Pensamento da América" foi uma vítima da Guerra Fria. A amarração das análises valoriza o material importante que estava esquecido nos arquivos. A imbricação entre arte, política e diplomacia é explorada num texto em que o rigor acadêmico não prejudica a fluência, a ponto de a autora, sem resistir ao jogo de palavras, incomum em obras do gênero, afirmar que, sob Vargas, o Itamaraty estava literalmente nas mãos de um aracnídeo: Oswaldo Aranha. O livro tem ainda um valor extrínseco: a oportunidade. Ele surge num momento em que o governo brasileiro se esforça em estreitar laços com outros países do continente, também com o objetivo de exercer liderança regional. São iniciativas que, como o Mercosul, têm no "Pensamento da América" um embrião remoto.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor, entre outros livros, de "Folha Explica Roberto Carlos" e "A História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes), todos pela Publifolha.
AMÉRICA ARACNÍDEA -TEIAS CULTURAIS INTERAMERICANAS
Autora: Ana Luiza Beraba
Editora: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 39 (224 págs)
Avaliação: bom
Marcadores:
América Aracnídea,
Imprensa
Assinar:
Postagens (Atom)