quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Franklin Obama

As comparações entre Barack Obama e o presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) não se limitam ao enfrentamento de monstruosas crises econômicas, embora essa seja sem dúvida a face mais visível da moeda. 

Embora muitos analistas considerem que as relações entre os Estados Unidos e a América Latina pouco irá mudar no novo governo, a retórica no momento parece diferente. Na véspera da posse, Obama declarou seu desejo de "abrir uma nova página, um novo capítulo" nas relações com a região. Ea nova Secretária de Estado, Hillary Clinton, falou em "laços diplomáticos mais dinâmicos". É claro que o interesse principal gira em torno das questões energéticas e de segurança, mas não podemos deixar de lembrar que nessas horas a cultura sempre funciona como "arma amigável" de aproximação. 

No primeiro capítulo de América Aracnídea defendo como Getúlio replicou a seu modo a "política da boa vizinhança" ditada pelos Estados Unidos à relação entre o Brasil e os demais países do continente. O suplemento cultural Pensamento da América foi um dos veículos utilizados. 

Hoje temos uma situação de igual desconhecimento mútuo, agravada pela montanha de clichês herdados de tempos passados (ver o post anterior). Talvez seja o momento de se empreender novos canais de trocas e conhecimentos culturais, estimulados por essa nova onda de renovação das relações entre o norte e o sul. 

Como bem disse o Embaixador Afonso Arinos, na rede Globonews na ocasião da posse do presidente norte-americano, é bom que haja uma "negligência benígna" do governo dos Estados Unidos em relação à região, afinal, a história já nos mostrou como um interesse exacerbado pode terminar mal... mas seria bom que esse novo momento da história estimulasse em todo o continente o fortalecimento dos "fios de través", que estiveram em voga nos anos 40. 

Não mais por questões meramente políticas, como foi na época, ou ideológicas. Mas sim por questões econômicas e de desenvolvimento. Só poderemos reconhecer nossa força se primeiro nos conhecermos melhor, porque ninguém quer nem gosta daquilo que desconhece. Getúlio e Roosevelt sabiam disso muito bem.


3 comentários:

  1. Que bacana que seu livro virou blog! Virei leitor assíduo já. Sobre Obama, queria recomendar a leitura de um post do Luiz Felipe de Alencastro, em que ele analisa o discurso da posse sem o oba-oba da mídia e de forma bastante crítica. Uma reflexão original que aborda um triste aspecto do passado comum das Américas - a escravidão -, escrita por um dos mais respeitados especialistas na área. http://sequenciasparisienses.blogspot.com/2009/01/ontem-obama-destoou.html

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  2. Ana Luiza,

    Conheci o blog ontem e me entusiasmei ainda mais quando vi a postagem nova de hoje. Parabéns por todo o trabalho, o livro é fantástico, torço sinceramente para que consiga manter aberto este canal.

    Política, economia, ideologia, desenvolvimento... será mesmo possível estancar assim um atual interesse norte-americano? Prefiro dizer que é uma questão de necessidade, então. A página atual da "agenda Américas" tem que ser virada por todos os motivos: humanitários, econômicos e de liderança política. Só não me vem muito à cabeça a questão da segurança (Venezuela, Cuba?).

    Impossível não lembrar do "Pensamento da América" ao ouvir o discurso de posse. Tentar pensar o que seria um "suplemento" dentro do contexto atual - muito mais complexo, como você lembrou, diga-se de passagem. Muitas perguntas.

    É pela satisfação em ter conhecido o seu livro, o seu interesse e a curiosidade que desperta a respeito do continente que não quis deixar passar a oportunidade de elogiar e parabenizar o incrível trabalho.

    Saludos!

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  3. Oi Fabio,
    obrigada pelo seu interesse e que bom que vc teve acesso ao livro! Pois é, pensar em que seria esse suplemento no mundo atual é um grande desafio e esse blog tem como proposta pensar nessas questões. Tem muita gente boa fazendo coisas interessantíssimas pela América afora, então conteúdo é que não falta! Por sorte hoje temos a internet para facilitar na circulação das informações!

    Bê, valeu pela força, pelos toques e pelos artigos!

    bjo,
    Ana.

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